sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Arruinando vidas

Há alguns anos escrevi em alguma agenda cheia de papeizinhos colados e considerações desaventuradas que tinha tudo que precisava na vida: uma família que me amava e amava de volta, um rádio e alguns CDs que enchiam minha vida de música e, portanto, de alegria, um lugar pra escrever, amigas com que me importava e se importavam comigo e perspectivas intelectuais de ser alguém nesse mundo. E, no entanto, não me sentia completa.
Lembro bem desse dia, eu havia acordado feliz, ouvia Skank no último volume, enquanto me arrumava e ouvia minha mãe se arrumando para irmos, provavelmente, a algum churrasco no meu avô.
Hoje foi a primeira vez que minha mãe disse “que decepção” se dirigindo a mim. Não pensei que viveria para ver esse dia. O dia em que eu não fosse o orgulho da casa. Hoje, também, foi o dia que percebi que estou completa. Declaro oficialmente, ser um ser humano, um ser social, um ser político, um ser seja lá o que for. Eu sou!
É verdade, não tenho mais tanta certeza sobre amar e ser amada pela família, não ouço mais aqueles CDs, não escrevo mais em diários, não converso mais com aquelas amigas e não tenho mais perspectivas intelectuais. E, no entanto, estou sim completa.
A vida, nos moldes que tinha quando escrevi aquelas palavras, está arruinada. E a vida que tenho hoje, está a pleno vapor. Porque eu tenho capacidade de existir.
Se tivesse as mesmas perspectivas daquela época, que acredito serem as mesmas concepções que minha mãe leva em conta ao dizer aquelas palavras, eu estaria amargamente decepcionada.

Obs: reservo-me ao direito de declarar-me equivocada quando escrevi essas palavras.

[questionamentos sobre minha segurança]