segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Júpiter



morro de medo de gato. quem de vocês já me viu na presença de uma gato sabe bem.

tem o famoso episódio de quando eu estava bebendo no sofá do meu filho Gabriel Smith e quando percebi que tinha um gato dormindo no mesmo comecei a chorar. e o famoso episódio de quando entrou um gato na casa do meu amigo Eduardo e eu corri pela casa inteira. tudo por causa do meu famoso gato Simba, que mordia mão que dava bobeira pra fora do sofá e gostava de pururuca.

daí ontem aconteceu o famoso episódio do gato do meu prédio que resolveu entrar em casa comigo.

é uma gata. descobri. e eu não sei o que fazer com a gata.

eu não sou uma pessoa de gatos, obviamente, porque eu tenho medo deles.

também não é o caso de fazer um famoso anúncio de adoção no facebook, porque ela não é uma gata de rua. não é maltrapilha, suja e magra. pelo contrário.

não sei se ela está gravidinha. morro de medo.
não sei se ela é um animatron, sabe, igual o gato da sabrina, uma bruxinha em [insira aqui cidade turística]. morro de medo.
não sei se devo dar um nome, levar no veterinário e a declarar minha gata. morro de medo.

enquanto eu não sei de nada, ela fica andando pela casa, subindo no que der pra subir, atacando meu pufe e dormindo nele; e me olhando com cara de quem é muito mais inteligente que eu quando eu canto Los Canos pra ela.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

sossega, coração

já disse que na minha época de escola eu não era a pessoa mais popular do mundo, né. que eu tinha várias cricas com várias pessoas, queria me matar de desgosto pelas coisas que ouvia pelos corredores e nas salas de aula. detestava com afinco quase todo mundo que me cercava.

eu chorava, esperneava, dizia pra minha mãe que não queria ir pra escola.

não que eu fosse a rebecca black e não aguentasse quando as meninas diziam "sabe que dia é hoje, rebecca?".

não, nada disso. eu só não tinha assunto com as pessoas, achava idiota tudo que diziam, não me sentia confortável com o tipo de humor que eles usavam.

daí minha mãe dizia 'calma, minha filha, eu sei que eles não são seu tipo de gente, que eles não tem nada a ver com você. mas fica tranquila, porque quando você for pra faculdade vai ser bem mais legal. vão ter pessoas com os mesmos interesses que você, afinal, escolheram o mesmo curso. sossega, coração"

claro que ela não dizia assim, porque minha mãe não é personagem de filme brasileiro dos anos 60 pra falar "sossega, coração".

mas era essa a linha de raciocínio. então, mãe, só que não é assim que funcionou.

eu tenho várias cricas com várias pessoas, quero me matar de desgosto pelas coisas que ouço pelos corredores e nas salas de aula. detesto com afinco quase todo mundo que me cerca.

você entende, mãe, que não posso forçar as pessoas a pensarem do meu jeito, e muito menos pensar do mesmo jeito que eles? que isso não muda com a idade, que isso não muda com o lugar, que isso não muda com o clima. sempre vai ter a sociedade e sempre vai ter eu na margem.

entende, mãe, que se teve alguma coisa que mudou foi que só agora eu percebi que a margem também tá cheia. tem um monte de gente comigo.

e que se eu falo que vou casar com duas meninas, que meu fornecedor de drogas foi preso e por isso não vou conseguir terminar a faculdade, que meus roxos são do bate cabeça, que almocei ervilhas com magic toast, que escorreguei na grama cortada e todas essas coisas; não é que eu seja lésbica-polígama-drogada-burra-punk-pobre-anoréxica-desajeitada; é que eu não ligo. e eu queria tanto que você não ligasse também.

só que você é você, você não é minha mãe, entende?