Ultimamente tenha achado que tolchokear, matar ou quebrar a reitoria não é uma idéia assim tão absurda.
Toda essa idéia de ultraviolence que anda cercando meus pensamentos surgiu de uma observação muito simples.
É assim: na primeira semana de RI a gente lê Maquiavel e toma como verdade absoluta seu conceito de Estado, porque, afinal de contas, se não houvesse Estado não haveria RI e porque estávamos deslumbrados com a universidade e o professor Marcelo fala manso e te faz acreditar no que ele fala. Enfim, Maquiavel pega (-pega o que? -ok, ele não pega nada) e fala que o que legitima o Estado é o monopólio da violência.
Eu pensei, é claro, é óbvio. Afinal, o homem é o lobo do homem e precisa do Estado pra controlar as relações da sociedade (Hobbes). Indo mais além, cada indivíduo precisa garantir a sua propriedade e se valesse a lei do olho por olho do ‘estado de natureza’ o mundo acabaria cego (Rousseau). Logo, cada indivíduo, individualmente precisa do Estado para garantir a sua propriedade.
Eu realmente nunca acreditei nessa besteira toda (propriedade, Estado, estado de natureza, individualismo e muito menos monopólio e professor Marcelo), mas conseguiram me convencer que a violência deveria ser exclusiva do Estado.
Até que lendo Laranja Mecânica me deparei com um pensamento do Meu Humilde Narrador e Amigo. Enquanto exibiam aqueles filmes de atrocidades (tolchoks, fogo, krovvy-red e o velho entra-sai-entra-sai) e injetavam remédios que o faziam se sentir mal, ele se perguntava algo do tipo ‘poxa, como será que eles fizeram essas cenas parecerem tão reais? Afinal, sendo um filme do governo, eles não permitiriam que isso acontecesse’.
Ah, meus amigos, aí eu fiquei cabreira. Mesmo sendo um delinqüente juvenil, Alex estava certo. Me fez pensar na polícia na USP, nas nossas discussões de comando de greve sobre ‘fora polícia do mundo’ que foi colocado sem autorização no blogue, na necessidade de segurança e no que torna o mundo inseguro (“também trazem a dúvida de quem é que está nessa prisão”, né)
Eu já estava sugestionada, quando liguei o canal 37 da TV a cabo de Assis e vi as imagens ao vivo de um cruzamento da avenida principal, com um letreiro com algo sobre ‘segurança 24h’. Exclamei “Tchau, privacidade do cidadão assisense. Quando eu sair, você liga nesse canal que eu te dou um tchauzinho, vó”.
A minha suspciosidade (do inglês, suspicious, sacou?) só aumentou quando fui assistir Che. Apesar das minhas críticas ao filme (é que eu achava que qualquer filme sobre ele deveria fazer todo mundo pensar que o buraco é muito mais embaixo, e nem este, nem aquele outro da fotografia bonita, o fazem). Enfim, num pronunciamento na ONU ele pergunta “porque vocês decidem quem pode usar violência e quem não pode?” ao algo assim.
E então, como uma boa estudante de RI, concluo: o monopólio da violência internacional é a hegemonia dominante. Como uma estudante de RI que tem como preferência a antropologia, advirto: O conceito de hegemonia já é o típico pensamento de colonizador/colonizado. Pra que essa hegemonia seja superior, os outros países devem se colocar como inferiores. Como uma pessoa que faz amplo uso de palavras de baixo calão, digo: porra de sistema internacional do caralho. Como uma grevista frustrada com ambições revolucionárias, os lembro: O buraco é muito mais embaixo.
“quando um povo odeia seu governo, não é difícil tomar uma cidade” - Che