Daí eu folhei os dez dias que faltavam pra acabar a agenda, sentindo o cheiro do alcool do marcador que marcava palavras resignadas no papel.
O livro fechado do lado, marcador de páginas dividindo o livro entre ele inteiro e o último capítulo. Não gosto de acabar livro, fica sensação de vazio, de que quando acabar acaba a história, acaba a tensão, aflição, apego e comoção que ele carregou no resto inteiro.
Mas não era isso que eu queria dizer, nem eram as besteiras que coloquei dispersas na folha de fichário que usava no colégio, enquanto me recusava a ligar computador, ver hora, voltar pra vida real.
Nem sei o que era. Se soubesse acho que me sussurava baixinho depois de acabar o livro, apagar a luz; antes de dormir. Mas não sabendo o que dizer pra mim mesma, pra me confortar, comecei a escrever qualquer coisa que pudesse me dizer. Não sei o que dizer pra me fazer dormir.
Não me vou ler uma historinha, não vou ficar mexendo no cabelo esperando o sono vir, não vou cantarolar qualquer canção que me faça alegre (alegre não, que também é exagero, alegrinha). Não vou me fazer dormir, não preciso disso.
Mas você acordada também é um porre né Iris, dorme logo e cala a boca, por favor.
Mas já tá cedo, já é claro. Que merda Iris, não podia inventar pra você mesma que sono é sagrado, que insônia não é saudável, que começar livro as 4 da manhã não dá certo, que luz acesa a noite inteira e corpo inerte o dia inteiro não pode fazer nada bem.
Não, não podia.
Não consigo dormir, Iris, que que eu faço?