terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Qualquer besteira que me ajude a (ou atrapalhe) dormir

Daí eu folhei os dez dias que faltavam pra acabar a agenda, sentindo o cheiro do alcool do marcador que marcava palavras resignadas no papel.
O livro fechado do lado, marcador de páginas dividindo o livro entre ele inteiro e o último capítulo. Não gosto de acabar livro, fica sensação de vazio, de que quando acabar acaba a história, acaba a tensão, aflição, apego e comoção que ele carregou no resto inteiro.
Mas não era isso que eu queria dizer, nem eram as besteiras que coloquei dispersas na folha de fichário que usava no colégio, enquanto me recusava a ligar computador, ver hora, voltar pra vida real.
Nem sei o que era. Se soubesse acho que me sussurava baixinho depois de acabar o livro, apagar a luz; antes de dormir. Mas não sabendo o que dizer pra mim mesma, pra me confortar, comecei a escrever qualquer coisa que pudesse me dizer. Não sei o que dizer pra me fazer dormir.
Não me vou ler uma historinha, não vou ficar mexendo no cabelo esperando o sono vir, não vou cantarolar qualquer canção que me faça alegre (alegre não, que também é exagero, alegrinha). Não vou me fazer dormir, não preciso disso.
Mas você acordada também é um porre né Iris, dorme logo e cala a boca, por favor.
Mas já tá cedo, já é claro. Que merda Iris, não podia inventar pra você mesma que sono é sagrado, que insônia não é saudável, que começar livro as 4 da manhã não dá certo, que luz acesa a noite inteira e corpo inerte o dia inteiro não pode fazer nada bem.
Não, não podia.
Não consigo dormir, Iris, que que eu faço?

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Princesa (de cantada de caminhoneiro mesmo)

Este texto é um elogio. E dialoga com este do Pedro, e este meu.

Lá pelas tantas desse ano, não sei se começo ou meio, meados então, a Fergo, empresa que fazia o transporte da minha casa para a minha casa perdeu a concessão da linha. Não sei detalhes, só boatos. Mas o fato é que não é mais a Fergo que me transporta, é a Princesa.
Desde então venho testemunhando várias diferenças. Nunca vi um motorista da Princesa ser xingado por um passageiro, tratado com impaciência pelo moço do guichê, ou proferir as frases "por favor, não reclame comigo, a culpa não é minha" ou "meu salário está atrasado". Nunca entrei num ônibus vomitado ou deparei com uma baratinha perambulando entre as poltronas. Nunca testemunhei atrasos, defeitos que impossibilitassem a continuação do percurso ou falhas na condução. Entre os outros passageiros, sequer ouvi uma só reclamação.
Todos esses detalhes que parecem básicos e óbvios para quem já esperou pelo ônibus lendo no verso da passagem os direitos do passageiro, na Fergo não eram. Não mesmo.

Então hoje aconteceu o motivo do meu elogio.
Na parada em Echaporã, tenho a impressão de que todos habitantes quiseram embarcar no mesmo ônibus. Se não foram todos pelo menos metade. E se não foi metade foi muita gente. Tanta gente que já não dava pra enxergar pelas janelas.
A primeira surpresa foi quando na segunda parada depois da rodoviária, o motorista parou no ponto em frente ao posto e disse a quem esperava. "Perdão, mas eu não tenho condições de deixar vocês subirem no ônibus. Já tem gente demais."
Digo, foi surpreendente pra quem já viu tanta gente dentro de um Fergo que desconhecidos já estavam sentando um no colo do outro, pra quem já ouviu mais de 30 pessoas sugerindo, vamos descer e empurrar, na tentativa de transpor os aclives.

A surpresa maior, emocionante mesmo, foi quando depois de alguns quilômetros rodados (2 páginas do meu livro, pra ser mais inexata) o motorista encostou o ônibus no acostamento e anunciou: "Quem está de pé pode descer e esperar um pouco que outro carro já está vindo"

Pasmem, minha nova empresa de ônibus respeita os indivíduos.

sábado, 6 de novembro de 2010

24 de agosto de 2002

Sexta série. Aula de biologia. Nem frio nem calor. Blusa do uniforme, calça jeans e colar de pentagrama. Meus coleguinhas de sala nunca gostaram muito de mim, e a recíproca é totalmente verdadeira. Sentada na 3a fileira, 2a coluna mais perto da porta, na 2a sala do corredor. Quando um menino, que eu particularmente detestava, sorrateiramente pegou minha agenda debaixo da carteira. -Fico puta com essas coisas.- Toca o sinal do intervalo. Grupinhos se formam. Eu pego um livro da mochila. Brumas de Avalon, acho. Um giz acerta minha cabeça. (daí eu fui pro Sírio Libânes para fazer uma tomografia e tirei 24h de descanso - há - brinks) Intempestivamente me levanto. Veio do mesmo lado que o menino anteriormente citado. Ando até o grupo e estapeio a cara dele. Ele devolve o tapa. Eu chuto sua canela. Ele devolve o chute. Eu empurro ele. Ele devolve o empurrão. Nesse ponto a escola inteira já assistia a cena pela janela gritando hey-hey-hey, todas as carteiras ao redor já estavam esparramadas pelo chão, meu fichário do Harry Potter já estava sob os escombros de carteiras e o inspetor já estava na porta pra nos levar até a diretoria.

Foi legal. Foi quando eu entendi o tal conceito de bullying. Virou amigo meu, me acompanhou de perto até a formatura do colegial. O bullying e o menino com quem troquei tapas.
Naquele mesmo ano fiz uma lista das pessoas de quem eu deveria me vingar -provando mais uma vez meu temperamento escorpiano.

sábado, 30 de outubro de 2010

duas 'etnografias'

Sábado fui numa festa de 15 anos. Segunda fui numa festa de 4 anos.

A de sábado, na verdade, nem era um aniversário. O dono da festa aniversariou seus 15 anos em dezembro do ano passado. Mas vinha preparando essa comemoração talvez desde aquela época. Um desses jovenzinhos que, embora não mantenham a mensalidade do colégio em dia, acham de extrema importância demonstrar ostentação a seus coleguinhas, oferecendo bebidas sofisticadas preparadas por bartenders musculosos à menores e chamando-os para a pista de dança, onde se quebram copos e esfregam corpos ao som dessas coisas que se toca hoje em dia, Lady Gaga suponho. Enquanto a família, reunida em volta da mesa de frios, observa enquanto as meninas, vestidas de maneira muito semelhante (não pude deixar de notar que a maioria pegou uma saia curta e puxou-a pra cima dos peitos passou a intitulá-la vestido) sobre saltos bastante altos, circulam explorando a fauna masculina fingindo-se de excessivamente alcoolizadas. E vice-versa (sobre meninos correndo, literalmente, em busca da fauna feminina).
Muito peculiares, os jovens de hoje.

A festinha de segunda acontecia na escolinha. O aniversariante era meu irmão. 10 crianças de 2 a 4 anos comiam salgadinhos (digo, davam uma mordida e retornavam a massa mastigada à bandeja), bebiam refrigerante (digo, derrubavam-o sobre a toalha de mesa), conversavam entre si e faziam fila pra subir no tobogã. Estas interagem com muito mais facilidade entre si e com os desconhecidos (eu, no caso) do que os jovens citados anteriormente. As meninas brincavam de fazer penteado e diziam que estavam se preparando para um casamento. Apontavam uma menina para ser a noiva, e outro menino para ser o noivo. O noivo escolhido dizia que não poderia se casar, porque seria dentista. Outro menino dizia que seria médico e pegava um chinelo, que serviria de bisturi e começa a simular um corte na barriga de uma menina deitada, enquanto dizia que estava fazendo um parto muito complicado, pois o bebê estava muito fundo. O tal obstreta, anteriormente, havia experimentando um a um o sapato de todas outras crianças, espalhados pelo cimento. Após cantar parabéns e comer os docinhos (digo, remexerem com o garfinho plástico no pedaço de bolo e devorarem os brigadeiros), foram todos de volta pra sala de aula, onde se espalharam deitados no colchão e no tapete para descansar de tamanha diversão. Os familiares do aniversariante, como é de praxe permaneceu sentada em meia-lua comentando sobre o calor que os acometia. Menos meu pai que puxou papo com as crianças e recolheu o lixo do chão, minha irmã que se manteve num canto, e minha mãe que estava ocupada servindo as crianças e posteriormente, escorregando no tobogã.
ps: na hora do parabéns, digo, no 'com quem será' a professora que estava guiando a brincadeira perguntou "quem vai casar com o Gregório?" e um dos meninos prontamente levantou a mão dizendo "eu, eu, eu!" a professora retrucou "não, você não pode" e ninguém mais queria casar com o Gregório. "melhor, né mãe?" a professora ironizou sorrindo para minha mãe.
Muito peculiares, as crianças de hoje.
Os adultos também, afinal de contas.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

You are

You are not possesed and you are not almost dead
This games that you play are all in your head.

You're not Vincent Price. You're Vincent Malloy.
You're not tormented or insane. You're just an young boy.

You're seven years old and you're my son.
I want you to get outside and have some real fun.


Um pouco de melancolia dramática não faz mal a ninguém.
Alguns copos de vinho e alguma abstração também não.

obs: assistam o curta, ele é mesmo bom.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O amor é gelo que derrete sem se ver.

É verdade.
O que era um congelador descongelado foi se enchendo de gelo e de gelo e de gelo e de mais camadas de gelo. Até que o vazio se encheu de gelo. Não feliz com a falta de espaço, pode-se tentar tirar a geladeira da tomada. Imaginando que sem energia isso pare de crescer. Mas o gelo derrete. E vai inundando a geladeira, e a cozinha. E quando se percebe tudo está gelado. Todo milimetro cúbico de epiderme está gelado e cada folículo epitelial, também conhecido como pêlo, está arrepiado.
É aí que você é dominada. Pelo gelo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Para tudo

Pra todo gole de alcóol que desce rasgando a garganta existe uma força que te faz espremer os olhos e engolir.
Pra toda pausa numa caminhada pra observar alguma coisa irreparável existe um pensamento capaz de te prender uns instantes.
Pra todo bom humor matinal existe uma xícara de café e uma vista bonita.
Pra toda falha existe arrependimento.
Pra toda tentativa existe um sorriso.
Pra toda sensação existe uma canção.
E pra toda canção existe um ouvinte.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Incenso, Melão e Poesia

Acendi um incenso de almíscar.
Peguei um pote na geladeira.
Peguei uma fatia de melão no pote.
Sentei na frente do computador,
comendo a fatia de melão.
Li uns versos.
A fatia acabou.
Só a casca melequenta na minha mão.

Peguei um pote na geladeira.
Peguei uma fatia de melão no pote.
Sentei na frente do computador,
comendo a fatia de melão.
Li uns versos.
A fatia acabou.
Só a casca melequenta na minha mão.

Peguei um pote na geladeira.
Peguei uma fatia de melão no pote.
Sentei na frente do computador,
comendo a fatia de melão.
Li uns versos.
A fatia acabou.
Só a casca melequenta na minha mão.

Peguei um pote na geladeira.
Peguei uma fatia de melão no pote.
Sentei na frente do computador,
comendo a fatia de melão.
Li uns versos.
A fatia acabou.
Só a casca melequenta na minha mão.

Só a casca melequenta na minha mão.
E a fumaça do incenso de almíscar.
E a vida esperando. Me esperando.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Nulo, um caminho Nulo.

Marco zero. Linha reta. Neutralidade. Nulidade.
Terra firme. Uma ilha de terra firme. Vazia.
Quero pular. Mas não sei se devo.
Mares podem ser tormentosos, mas pelo menos não é essa calmaria.
Posso ficar aqui, esperando um maremoto.
Posso sair daqui, aproveitar a água limpa, ou suja.

Quero, não sei,
Posso, o que eu quiser.
Se quero, não sei.

Por mais que alguém posso me dizer que sou egoísta, neurótica depressiva, vingativa, possessiva e tempestiva, só eu posso escolher 'should i stay ou should i go'.
Merda.

ps: passional e orgulhosa também

sábado, 24 de julho de 2010

Sociedade

s.f. Reunião de homens, de animais, que vivem em grupos organizados; corpo social / Conjunto de membros de uma coletividade, sujeitos às mesmas leis./ União de pessoas que acatam um estatuto ou regulamento comum: sociedade cultural./ Grêmio, associação./ Parceria.
loc. adv. Em sociedadde, juntamente, em comum, em companhia, de parceria.
Fonte: algum dicionário furreba que só existe em versão virtual

Relações de troca. Dar para receber. Amar para ser amado. Chutar para ser chutado. E acima de tudo: respeitar para ser respeitado.

A família é a primeira sociedade. Então não me venha gritando, chutando, berrando, descontando seus assuntos mal resolvidos em nós. Porque ninguém é obrigado a ser tratado desse jeito. Já te disse antes. Tem problemas? A gente ajuda a resolver. Não crie mais problemas. Bobinha.
Entendeu?
Mereça o que te oferecem.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Bambi

aos desavisados que podem achar que o título é uma referência metafórica a qualquer outra coisa, desde torcedores do São Paulo até homossexuais do sexo masculino, o título refere-se ao filme da disney mesmo.


Há um tempo começamos a acostumar meu irmão a assistir filmes. Começamos com desenhos daqueles de 15 minutos, e a certo ponto, em meados desse semestre ele estava assistindo Bambi. Eu nunca gostei de Bambi, porque Bambi é o filme mais triste que a disney já produziu em todos os tempos. Acontecem várias desgraças, tragédias e um monte de coisa boba e injustificada. Lógico que quando eu era criança essas não eram minhas razões para não gostar, eu não gostava porque tinha um certo bloqueio a animais falantes.

Estava agora a pouco assistindo pela (no mínimo) milésima vez o tal desenho. Meu irmão adora. Pede pra ver todos os dias. Quando sugerimos outro ele abre o berreiro. Quando queremos assistir outra coisa ele abre o berreiro. Ele fala que é o Bambi. Ele imita o Bambi pulando. Meio doentio até. (deve ter puxado da minha irmã essa obsessividade exagerada)

Ele já decorou o desenho e faz comentários durante o filme.
Um dia ele me perguntou se eu sabia o que tinha acontecido com a mãe do Bambi. Eu queria saber o que ele achava que tinha acontecido. Ele me respondeu que os caçadores a haviam matado, levado para casa, fritado e comido.

Ele também já perguntou:
Por que o Bambi e o outro veado macho brigam e ninguém contou que é por causa da fêmea.
Por que o Flor ficou vermelho quando a outra gambá o beijou e a resposta foi 'ele ficou com vergonha'
Se quando os cachorros o morderam, ele se machucou e a resposta foi 'não não, só um pouquinho'

E também já exclamou 'FOGO' para o qual recebeu uma longa explicação de que era só um pouquinho, que não aconteceu nada de mais, que todos animais conseguiram se salvar e que depois ficou tudo bem.

Que eu saiba nada do que acontece em Bambi é o tipo de coisa que se coloque numa historinha infantil. Mas já que fizeram esse filme horrível, trágico, mentiroso (porque o Tambor é mais velho que o Bambi e fica adulto ao mesmo tempo), boboca, vagaroso e feio; e já que decidiram mostrar pro meu irmão; que pelo menos contem a verdade.

Coisa ridícula.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

In/Out

aquelas pessoas que devem ser legais mas não conseguem ser legais porque se acham a última bolacha do pacote, quando na verdade são a última bolacha que você come enquanto resmunga 'não aguento mais comer bolacha' com um gosto insuportável de doce artificial na boca.


'cause i'm so sick. so sick of it all.

domingo, 11 de julho de 2010

Cansei de Convivência Pacífica

Eu quero confrontos.
Ataques.
Trombadas.
Tapas na cara.
Socos no estômago.
Ofensas desmedidas.

Eu quero que segurem meu braço.
Que me chamem de idiota, no mínimo.
Que me peçam pra parar.
Que me obriguem a me controlar.

E por fim quero gritar que não tenho auto-controle.
Que cansei de me controlar.
Que não gosto de não beber.
Que não gosto de não ter insônia.
Que não gosto de não ouvir música alta.
Que odeio essas caixas de som estouradas.

Sinto falta de não dormir.
Sinto falta de escrever nas paredes.
Sinto falta de escrever algo bonito.

Quero explodir as últimas [número não exato] postagens.
Quero explodir.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ufa

Tirei férias. Eu não tenho nada atrasado pra entregar. Considero meu semestre fechado.
(com exceção daquela maldita prova, daquele maldito professor que se mandou pros estrangeiro quando eu estava doente)

Não estou acostumada com isso. Tenho sempre assuntos mal resolvidos. Então resolvi pegar aquela lista de muito tempo atrás e resolver as coisas que não fiz. Marcar de comer brigadeiro com a menina que fazia dança do ventre comigo e emprestou uma saia e nunca devolveu. Ligar pro meu professor de inglês que me ensinou a furtar saleiros de bares. Arrumar minhas gavetas. Levar minhas apostilas do cursinho pra doação. Consertar a tela do meu computador.

Não tive vontade de fazer nada disso. Não tive vontade nem de ligar pros amigos que me fazem falta. Pelo menos uma vez por semana falo que estou com saudade, e quando tenho uma semana livre, simplesmente não tenho vontade de pegar no telefone, ou mesmo aparecer online no msn.

Por fim, sem ter mais o que fazer, além de assistir os jogos da copa, cochilar no sofá da minha vó e acordar quando meu irmão chega da escolinha, eu liguei pro moço que conserta computador. A noite, naquela hora que geralmente aparece alguma coisa que eu sinto vontade de escrever, em que eu geralmente digito blogger.com na barra de endereços, clico em 'nova postagem' e depois de uns 2 minutos fecho a página. Naquela hora, eu não tinha meu computador pra escrever. Eu peguei um bloquinho que usava pra escrever no meu ano de cursinho, e acabei com ele.

Agora sim. Não tenho mais nada pra fazer.

[pausa de lamento pelas pessoas que leram essa bobagem até aqui, só pra saber que tirei um peso dos meus ombros. e que 'é meu e é só meu'.]
obs: Majú, essa observação final é dedicada à você, que só gosta das minhas observações finais.

domingo, 27 de junho de 2010

Esclarecimentos a Conversas de Bar

Ia eu dizendo ao professordefilosofiadaminhairmãquenamoraumadasminhasamigasdeinfância que deixei de acreditar na bondade humana. Ele me afirmou que maldade é quando há premeditação. Se a pessoa disse o que disse por inocência, foi por inocência.
No momento, eu, preocupada que mais uma vez se desse início a uma guerrinha de palitos de dente, não pude lhe responder que acredito justamente no contrário.
Se existe premeditação podem se acrescentar várias influências e reflexões não individuais que poderiam levar a um indivíduo dizer ou fazer coisas que não correspondem necessariamente a sua concepção de moral. O que me leva a acreditar que a pessoa, em si, não é maldosa, apenas deixou que a raiva/incompreensão/maus costumes a levassem a uma ação reprovável.
Mas quando uma pessoa faz uma reflexão ingênua e maldosa como a que citei e verbaliza numa conversa comigo, eu passo a acreditar que ela é maldosa e ponto. Que o mais profundo de seu âmago interno, suas crenças e seus pensamentos subconscientes são maldosos. E pra mim, isso o torna uma pessoa ruim e PONTO. E isso me faz deixar de acreditar que a humanidade seja boa. Simples assim.

Esclarecimentos às pessoas que não estavam no bar: Eu citei uma conversa com um colega de classe que soltou a pérola: "Meu, se a pessoa não tem condição de fazer faculdade, por que é que insiste?" sobre as pessoas que moram na moradia, pessoas que recebem bolsa BAAE e tetraplégicos.

PS: gostaria de agradecer aos companheiros daquela noite por não terem iniciado uma guerrinha de palito de dente, ou saquinhos de sal, ou conteúdo dos copos, como é tão frequente após a quarta garrafa.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Coceira

Eu liguei o computador pra escrever sobre a coceira. Coceira, essa filha da puta que me atordoa minuto a minuto, dia após dia. Ia dizer que a coceira é a pior coisa que pode acontecer a um ser humano, e acredito mesmo que seja. Porque o princípio básico da coceira é que ela não vai parar de coçar quando você coçar, muito pelo contrário, a coceira piorará até que você arranque sua pele ou esteja prestes à e grite 'ahhhh, caralho' como eu fiz tantas vezes nos últimos dias.
Daí notei que seria muito simplista da minha parte colocar todas aflições que num pote entitulado coceira. Apesar da coceira incomodar existem mais coisas que incomodam. E o incomodo talvez venha do mesmo pote que a coceira veio, ou não, mas nesse caso eu prefiro simplificar e falar que as causas de todos meus males é a dengue. A dengue e só a dengue. Não meu comportamento auto-sabotador, não o nervosismo, não o afeto.

A dengue chegou de surpresa. Eu estava tão fraquinha no meio dos meus problemas, crises e bagunças que por muito tempo insisti que todos sintomas não tinham uma causa física, que eram só mais sintomas da crise que persistia em todos setores possíveis da minha vida.
A quinta feira fora tão cheia de desastres, desastres extremistas, do tipo chorar-em-público-desastre. E eu fui dormir tão absorta em problemas. Pensando por onde começar a arrumar a bagunça generalizada que se instaurou em mim, em casa, em tudo. Sem forças, decidi que o primeiro passo para uma retomada seria uma boa noite de sono, sem despertador pra tocar no dia seguinte.
E eu acordei tão mal. Se é pra acordar mal não sei nem pra que acordar. Que coisa boba, acordar como se nem tivesse dormido. E assim me repito desde a última sexta feira. Na esperança das crises terem se resolvido na minha ausência.

(nenhuma crise vai ter se resolvido quando eu voltar, pelo simples motivo de que as coisas não são fáceis. e seria tão fácil sumir na semana de provas, abandonar os amigos quando eles tem problemas, emprestar cachecóis e não devolver, ou que todas pessoas que eu não gosto desaparecem da terra, ou que as pessoas que eu simplesmente não quero encontrar desaparecessem junto)

a verdade é que eu to perturbada, de novo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Eu estou para o mundo, assim como o mundo está para mim.

Não sei se faz sentido, também não quero divagar procurando um sentido. Mas se veio à minha cabeça, deve fazer algum sentido. Ou não.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Meu espaço

Antes de começar a reclamar, acho aconselhável acertar alguns pontos.
1- Eu gosto muito do meu curso, apesar de qualquer dos pesares não o ofenderia.
2- Posso ofender particularmente alguns ou muitos de seus integrantes, mas não publicamente.
3- Eu desenvolvi o hábito de escrever nas paredes há algum tempo.
4-Não fui eu quem comecei a escrever na parede naquele dia em específico.

A história é mais ou menos assim:
Acontecia um sarau na faculdade, no espaço do Diretório Acadêmico. Local, muito me orgulha dizer, que fica aberto o maior tempo possível, acessível ao maior número de pessoas possível que tem a liberdade de se utilizar do espaço da forma que melhor lhes aprouver desde que não acarretem danos aos materiais e móveis ali contidos.
Nesse sarau, um estudante pegou um canetão e escreveu na parede "Aqui jaz o capitalismo". Frase que eu acho um tanto quanto boba etc mas não o impedi de escrever, assim como ninguém o fez. O canetão ficou em cima da mesa. Muitas pessoas escreveram as frases que lhe vinham à mente. Ali se encontram letras de música, citações de livros, piadas, enunciações e pronunciações.
Eu, vendo o canetão solto em algum canto, o peguei e escrevi bem alto "RI é pra RI ñ chorar". A intenção, acredito com bastante certeza, era escrever a famosa piada "é RI pra não chorar". Achei legal, ri, apontei, mostrei e tudo mais.
E a festa acabou.

próximo capítulo:
Acontecia uma reunião na quinta feira, quando uma estudante do mesmo referido curso se pronunciou dizendo "Se algum de vocês souber quem escreveu isso, peça para por favor apagar. Nós, estudantes de Relações Internacionais, nos sentimos ofendidos com essa frase".
Não lembro exatamente as palavras que disse no momento mas foram no sentido do que escreverei agora.



Eu que escrevi e não vou apagar. Pra começar eu não me sinto ofendida com ela, senão não teria escrito. E pra completar esse espaço é meu. Eu posso escrever o que eu quiser, ofenda a quem for e ninguém pode me falar se estou certa ou errada. Se eu não tenho esse direito, então ninguém vai ter. Mas pode acreditar que eu vou defender com unhas, dentes e saliva pra que todo mundo tenha esse espaço e pra que ninguém venha aqui me chorar as pitangas dizendo que não concorda. Não concorda escreve aí embaixo. É lógica de porta de banheiro mesmo.

Arg. Não vou apagar.

domingo, 23 de maio de 2010

Overdose de Diversão

Sem saber descrever somente em palavras, digo que:














1- Como decidir viajar: vamo ae? vamo. Fomos.



2-O Tom Zé é um gênio, mas um gênio, mas um gênio tão chato. Humilhou todos nós, público ignorante com mais de 50 pessoas que não temos capilogênese para compreender a performance dele. E ele fez questão de deixar isso muito claro se retirando do palco. Deixamos um confeti na beira do palco, julgando que era isso que ele queria.


3-O mundo têm só duas mil pessoas. E isso se comprova quando você viaja e encontra as mesmas pessoas que você encontra na sua cidade. E não venha discutir comigo, desconhecido que eu acabei de conhecer, porque eu sei que você ganhou um aumento quando passou de coadjuvante a alguém que conversa comigo.

















4- Eu e o Wander Wildner cantando juntos. Queria abraçar ele e dizer: "Wander, você canta todas minhas crises". Mas ele não abriu o camarim. Disse que estava porreta.


5-Uma desconhecida, conhecida de um conhecido ofereceu a casa pra dormirmos. Mirela é a santa protetora dos que viajam sem ter onde ficar.

















6-Eu no putz putz fingindo que estava legal, abrindo espaço aos pulos e deslocando os ombros dos transeuntes.


7-Comprovando que Tempero Manero tem em qualquer lugar, variando o nível de higiene, o preço e o objeto estranho que vem na salada. Em Bauru a couve vem com plástico.


8- www.myspace.com/pelico Ele me deu um CD. E o CD é bom.























9-Jessica e Liá-Liú (em homenagem a outra desconhecida que nos ofereceu abrigo) e Emilia e Iris. Umas fofas complexas de se carregar para cima e para baixo que chamam muita atenção.


10-Demônios da Garoa. Suscitou a pergunta: "Se isso foi o melhor do Interunesp de Ilha no ano passado, como foi o resto?" Ok, ok.

















11-Maculelê. (só cito porque eu gostei da foto)
















12-Diogo Nogueira: curso superior em 'Como atrair mulheres para o público'. Com pós-graduação em: 'Cantando e Flertando'. Realizando estágio em: 'Ow lá em casa'. O comentário mais pertinente, me perdoem pela chuleza, 'Ah essas costas tatuadas no meu colchão...'

Conclusão: Quem tem boca e gasolina vai à Roma e se diverte pra cacete.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Dias Incompletos

Eu começo o dia como se o outro não tivesse terminado.
Eu termino o dia como se não tivesse começado.
Chego cansada, tiro as roupas.
Acordo atrasada, ponho as roupas.

O dia não interessa, porque todos são iguais.
As segunda, terças, quartas, quintas, sextas, sábados, domingos, feriados são o mesmo dia.
O mesmo dia todos os dias.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Que engraçado

Algum dia, quando estavamos todos juntos ele perguntou: 'Será que todo mundo se gosta como a gente'. Eu respondi que não sabia. Ele respondeu: 'Eu acho que não, porque a gente se gosta de verdade.'
Eu achei muito engraçado.





Eu escrevi porque não queria esquecer. Porque foi muito engraçado mesmo. Mesmo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Surpresa (ou não)

Metade do que faço
é devida.
A outra,
é de vida.

Tudo acontece, simples ou complicado.

Posso escolher o caminho,
mas o caminho escolhe
tantas outras coisas.

Ingenuidade a minha?
Não saber o que encontrar
Esperteza do caminho?
Ter sempre algo pra mostrar

domingo, 9 de maio de 2010

Nunca Iê, nunca.

Em algum momento, por algum motivo que nem eu, nem ele, saberiamos explicitar, ele me pediu para sentar ao seu lado em minha cama. Ele me abraçava quase enforcando e ele acariciava meu cabelo quase arrancando-o e dizia: "A gente vai brigar, Iris." Eu dizia: "Nunca Iê, nunca."
Fui levá-los embora, ele continuava dizendo o mesmo: "A gente vai brigar, Iris." Enquanto eu repetia: "Nunca Iê, nunca." Ele argumentava: "Mas eu e a N. dissemos o mesmo..." Eu não tinha resposta, só acreditava que nunca iriamos brigar.

Digo agora. Iê, não faz o menor sentido. A gente nunca vai brigar porque nunca e pronto.
Num outro dia, também não sei por que cargas d'agua eu explicava pra alguém que de todos amigos que foram embora, e de todos amigos que eu tenho hoje, você é o único, o único do mundo inteiro que eu sei que é pra sempre sempre. Quando me perguntam porquê, eu digo que é porque a gente sabe se aturar. Eu pelo menos vou te aturar. E você também vai me aturar porque é isso que temos feito desde que nos conhecemos. Desde quando arranquei seu tênis na aula de inglês eu aturo seu chulé. Ou até, desde antes, quando você era monossilábico, eu já te aturava. Vou te aturar e amar pra sempre no infinito do universo (caso não se lembre, é você que estava falando do infinito do universo agora pouco no telefone).

obs: seus bobos, não adiantou nada ficarem mudando de canal, porque tá passando brilho eterno de novo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Vida Alheia

Eu cresci num bairro afastado, com a casa afastada do muro.
Acostumei-me a ouvir apenas os gritos de um cômodo para o outro que tanto irritavam meu pai. Mas convenhamos que não faz sentido andar de quarto em quarto avisando 'O almoço está na mesa', sendo bem mais prático bradar 'Tá pronto!!!'
Quando me mudei das casas dos meus pais caí num sobradinho geminado muito simpático. Já havia sido uma revolução mental ouvir as músicas que os vizinhos decidiam ouvir, ouvir eles brincando com o cachorro (eles compunham músicas pro cachorro, por isso o fato chama tanta atenção), por vezes ouvir os vizinhos discutindo, e ainda algumas outras os vizinhos arrastando móveis suspeitamente durante a madrugada.
Há pouco mais de um mês eu me mudei para um apartamento, numa área horrível da cidade, onde transitando pelas ruas você pode encontrar os piores seres humanos existentes: unimarianos (sem a pretensão de generalizá-los, afinal conheço dois ou três que podem até se salvar).
Foi só quando me mudei para um prédio cercado por vários prédios que fui entender como a vida alheia é um porre. Eu não quero ouvir as músicas que a menina do bloco ao lado ouve, mesmo por que me irrita ouvir músicas da mesma banda, mas de albúns diferentes misturadas (sim, eu sei que é frescura minha), eu não quero mais perceber quando qualquer um do meu lado do prédio da descarga, eu não quero mais conseguir notar que horas o menino da frente chega em casa. E eu, especialmente, não aguento mais os meninos do prédio ao lado que tem um megafone e fazem questão de informar a todos transeuntes e moradores num raio de 4 quarteirões o que se passa na vida deles. (Ontem eles anunciaram quando um deles vomitou, e o aspecto do vômito).
Não suporto mais a vida alheia e peço que ela se retire da minha vida.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Por favor

A páscoa foi ontem e não tem mais chocolate.
Se isso não é sinal de que me importo não sei mais o que é.

eu podia ir viajar, entrar no carro de qlqr desconhecido e desaparecer por uns dias.
eu podia comer mais e mais barras de chocolate até poder ir fantasiada de mamma bruscheta numa festa cover.
eu podia beber de novo todas as garrafas que eu joguei fora quando me mudei de casa.
eu podia tomar café até que não sobrasse estômago pra contar história.
eu podia passar mais um ano sem dormir.
e podia passar mais um ano dormindo e xingando quem tentasse me acordar.
podia repetir em todas as matérias porque não consigo me concentrar nas aulas.
podia abrir todos armários/portas/gavetas/livros/arquivos do computador e não me aborrecer por não achar nada.
podia dançar até perder os músculos e depois o ar.

mas por favor. me digam que vai ficar tudo bem. que alguém sabe resolver tudo isso.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Paraíso

O Paraíso, se este existir, é uma praia de areia fofa e branca que não gruda na pele, com o mar manso com as águas que não fazem o olho arder, e com sol fraco.
No Paraíso você pode pintar o cabelo da cor que quiser, e ele não vai ressecar. Quando o corintias joga, ganha, de virada, que é sempre mais gostoso. Todas as comidas são gostosas como um macarrão de molho branco com brócolis que eu fiz em meados de outubro e nunca consegui fazer igual. Todos os cafés são perfeitos, nunca aguados, como de restaurante de beira de estrada. Toda caipirinha é como a do Bartificial. Lá, só toca música boa, nunca aquelas que os carros passam tocando no campus da unimar. O transporte não é feito pela fergo, em hipótese nenhuma.
O problema do paraíso é deus. Aquele prepotente que fica te olhando o dia inteiro, olhando enviesado pra toda brincadeira boba que você faz (bem sabem que eu posso até não comer, ou dormir, mas ver um fusca azul e não socar ninguém está fora de cogitação). deus é um saco, fica te julgando o tempo todo e vê problema em tudo que você fala. Se eu conseguisse erguer a sombrancelha, eu o faria para deus. deus é um neurótico, daí você nunca fica à vontade, não pode contar piada preconceituosa, falar palavrão, remedar vendedores que erram informação, deixar louça sem lavar ou dormir de calcinha.
Daí deus te faz cansar do paraíso.

obs: pra chegar no paraíso, é um inferno, pra voltar, também.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sobre a adolescência (ou Me Ouve!)

Eu queria escrever um monte de coisa, mas pareceria adolescente demais.
Eu queria colocar cada um no colo, bagunçar o cabelo e falar 'bobinho, tá fazendo tudo errado. agora me ouve.
Pegar um e dizer 'meu amor, pára de fumar, pára de me dar o bolo pra conseguir drogas, coma, pelo amor de qualquer deus que vc acredite, coma.'
Pegar o outro e dizer 'fofo, arranje um pouco de amor próprio, não é hora de rastejar, aliás, não deveria rastejar nunca. tenho vontade de pisar nos dedos das suas mãos e gritar ISSO N É AMOR'
Segurar a outra, firme, num abraço, e dizer 'bobinha, páre de cortar os pulsos. isso me irrita até o fundo da alma, entristece cada célula do meu corpo, dá vontade de te matar eu mesma só pra te fazer querer viver. que eu te quero o melhor, e o melhor não é assim que vc vai conseguir'

Queria surtar de uma vez por todas e cortar o cabelo dos três.
Me ouçam por favor. Que eu me preocupo mesmo.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Sobre Folia (ou Acóóóódeee)

Carnaval é outro daqueles estados de espírito, como o Rio de Janeiro.
Não sei se todos vocês sabem, mas eu sou porta-bandeira da Unidos da Vila Operária. Bairro em que meu pai nasceu, cresceu, se criou e criou.
Eu desfilo desde os 3 anos de idade, e vou desfilar pra sempre. Não consigo imaginar um ano não estar aqui pra descer com a minha escola na avenida.
Carnaval é dessas coisas inexplicáveis. São várias pessoas trabalhando por um objetivo em comum, por 'amor à escola'. A gente se estropia todo, passa dias, semanas, senão o ano todo trabalhando duro, fazendo fantasia, enfeitando carro alegórico, bordando, pra 3 dias de festa, nos quais a gente se machuca mais.
Só sei que acaba todo mundo com bolhas nos pés, com os ombros machucados, eu com a cintura marcada, os meninos da bateria com a mão calejada. Mas acima de tudo, todos absurdamente felizes. Chega a quarta-feira de cinzas e todos estão apaixonados, cantando pra quem quiser e quem não quiser ouvir o samba-enredo. E é uma coisa bonita mesmo de se ver.
Agora a pouco saímos do nosso último desfile. Quem se xingava no sábado, hoje se abraçava. Dançavamos todos juntos, gritando nossos bordões, comemorando por ter sobrevivido a mais um carnaval, e pelo Jorge ter sobrevivido também.
Daí estavamos no ônibus, cantando os clássicos de onibus (toda vez que eu chego em casa a barata da vizinha tá na minha cama) e eu olhei pela janela e todo cansaço bateu. Veio 'É de lágrima' na cabeça. E desde então estou melancólica.

Pois é... deixo de citação o samba da União da Ilha de 2008, meu favorito.
"É hoje o dia da alegria, e a tristeza nem pode pensar em chegar"

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Sobre as noites

Eu acordei suando. Primeiro pensei que já era dia, pois seria impossível fazer tanto calor numa madrugada. Tirei a blusa e deitei no chão empoeirado. Só rolei pro chão, na verdade. Fui afastando o monte de tralhas que eu vou acumulando em volta da minha cama, pra se uma hora precisar. Derrubei minha bolsa aberta e as coisas que vou acumulando dentro dela, pra se uma hora precisar, se esparramaram. Chutei a garrafa de água vazia. Fez barulho. Me perguntei se acordara alguém. Se haveria alguém dormindo. Se haveria alguém. Se seria hora de dormir. Que horas seriam afinal? Tateei a cama e os arredores, revirei os lençóis e os travesseiros, as coisas que caíram da bolsa, procurando o celular. O celular, obviamente estava se escondendo de mim em algum lugar que eu não fosse procurar. Apertei qualquer tecla. 1 ligação perdida. Lembrava remotamente de ter abafado, com irritação, o toque do celular durante o sono. Não quis ver quem era, mas eu sei quem era. O relógio no canto direito inferior marcava 03:04, claro. Suspirei.
Voltei pra cama, me cobri, sentia frio. Como se tivesse me deitado num ringue de patinação e não no chão. Percebi que não ia voltar a dormir. As vezes eu acho que nunca mais vou conseguir dormir. Até que eu durmo. Mas hoje eu não iria dormir. Suspirei.
Procurei minha blusa, vesti, levantei, abri a porta. A casa toda escura. Fui andando pelo chão empoeirado, acendendo as luzes no caminho. Abri a geladeira, parei alguns segundos, procurando algo que não estava lá. Nunca o que a gente procura está na geladeira. Peguei uma garrafa de água. Peguei um copo. Coloquei os dois, o copo e a garrafa, na mesa e me sentei a sua frente.
Eu não enchi o copo. Abracei as pernas e comecei a chorar, mas o choro não vinha, era só um nó na garganta. Nó de quem segura alguma história que não escreveu e não pretende contar.
Pensei em ligar pra quem tinha me ligado e dizer 'Você tá acordado? Eu to muito perturbada. Vem cá?' Mas não ia ligar. Pensei em ligar pra quem sempre me liga nas madrugadas e dizer 'Você tá acordado? Eu to muito perturbada. Vem cá?' Mas não ia ligar.
Então enchi o copo. Bebi a garrafa inteira. E dormi.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Sobre as manhãs

Manhã me deixa enjoada.
Talvez não sejam as manhãs que me enjoem, talvez eu que seja enjoada com as manhãs.
Manhã me deixa meio aérea.
Eu olho o relógio e não reconheço a hora, penso em informar alguém que a pliha está fraca, porque ele marca quinze para as nove. Mas me lembro que olhei pro mesmo relógio as três e ele marcava a hora certa, de modo que deve ter rodado até as nove nesse meio tempo. Daí me assusto.
Eu sento à mesa pra tomar café com a minha vó e com a Elisete, mesmo que já tenha tomado três xícaras antes delas acordarem. Elas só falam do carnaval, e eu não aguento mais falar/ouvir/pensar do/no carnaval. Daí eu me distraio vendo os cachorros andarem pelo páteo. Cagarem pelo páteo. Lamberem o cu um do outro.
Manhãs me entediam.
Talvez não sejam as manhãs, o relógio, as conversas ou os cachorros que me entediem. Talvez eu seja entediada naturalmente. Um poço de tédio esperando por alguma ação. Mas ação me entedia.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sobre o que eu perdi/perco/perderei

Eram 6:27 quando me perguntei uma pergunta muito frequente: 'e agora?'
Eu tinha acabado de deixar minha irmã e as meninas que [não] dormiram aqui em casa na escola. Elas tinham acabado de atravessar correndo o portão que o Laerte tinha acabado de abrir. Eu não sabia pra onde ir mas sabia que o mais lógico era voltar para o mesmo lugar de onde tinha vindo: casa. Mas ao mesmo tempo me parecia muito lógico assumir que se eu voltasse pra casa seria do mesmo jeito que tem sido desde que eu vim pra cá. Eu deitaria na minha cama desarrumada, ligaria a tv, não encontraria nada, desligaria a tv, pegaria um livro pra ler, me cansaria, apagaria as luzes e dormiria. E mais um dia seria perdido.
E sensação de tempo perdido é das piores sensações do mundo.
Mais ou menos como no fim da apresentação de ballet, em que os videos que eu passei dias editando não rodaram no dvd, e a coreografia que eu passei dias ensaiando não pode ser dançado porque a música também não rodava. Mais ou menos como quando a prefeitura decidiu que não haveria competição entre as escolas de samba no carnaval, e todas as idéias que o Jorge e minha vó passaram o ano discutindo não faziam mais sentido. Mais ou menos como as horas passadas na cadeira na frente do meu avô. Mais ou menos como dormir mais que 8 horas por dia. Mais ou menos como tirar xerox e não ler, e ler e descobrir que não era o texto certo.
A pergunta é: como não perder meu tempo.
E eu vim, dirigindo pelo mesmo caminho que percorri tantas vezes nos ultimos, sei lá quantos anos, os postes se apagando enquanto o sol iluminava o que ficava para trás.
Eu não quero mais nada disso, nada do que fica pra trás, mas o que sobra é só escuridão. E a escuridão, essa nunca fica pra trás.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Sobre a paciência e o fim dela

Eu tenho uma relação no mínimo complicada com meu avô.
Ele se separou da minha vó no ano em que eu nasci, mas continuou visitando nossa casa (eu moro com minha vó). Então eu cresci achando que avôs visitavam avós, que essa era a relação padrão para avôs e avós.
Daí eu cresci e descobri que não era assim. Na verdade só descobri quando eu tinha 13 anos e o divórcio finalmente saiu. Mas não fez diferença porque ele continou nos visitando.
Foi só em 2006 que, por uma birrinha, eles pararam de se falar e meu avô, dramaticamente, cortou relações com a maioria da família, nunca mais pisou aqui e pediu para que no velório dele, nenhum de nós, sua antiga família, comparecesse.

Depois de um tempo, não lembro bem porque, alguém em casa teve a feliz idéia de falar 'ah, o vovô é tão sozinho, coitado, deve sentir nossa falta, porque não conversamos com ele'.
Ah, 'mas que infeliz ideia!' digo eu.

De todas as pessoas do mundo ele é a que consegue me deixar mais desconfortável. Eu nunca sei o que falar, porque eu sei bem que tudo que eu falar vai ser criticado depois.
Antes, quando eu o via adotava um tom irônico, daí ele falou pra minha mãe não me levar mais lá porque eu só sabia fazer piadinha. Depois ele descobriu que eu sou vegetariana e me informou que isso é um atraso de vida, coisa de hippie. Depois eu adotei um tom mais acadêmico, daí ele falou que eu era muito ideológica.
E hoje eu fui visitá-lo. Até tirei minha camiseta do Che Guevara. Sentei na cadeira na frente dele e ouvi ele contar a mesma história que contou nas últimas duas vezes que eu fui. Ele fala sobre os colegas de ginásio dele que também vieram pra São Paulo fazer faculdade. Sempre com um tom satírico. Um ele diz que perdeu a vida atrás de um diploma de curso superior pra escrever um livreco que nao serve pra nada e acabar com parkinson. O outro é um destrambelhado marxista que fez de tudo pra ir pra União Soviética, que aliás é outro atraso de vida, e no fim não conseguiu.
Ele fala dos dois, sempre, me mostra os livros, me mostra a estante de madeira no fundo da casa. Nunca fala sobre ele, nunca pergunta sobre mim. Me oferece refresco de açaí, vencido em 2007. Eu vou embora.

Saco cheio. Ele diz que tem pena de todo mundo que vive, que ninguém merece viver nesse mundo, que é um mato sem cão.
Eu digo, quem não tem cão caça com gato! caralho.
(Diria, quero dizer, já que não posso mais ser irônica na frente dele.)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sobre passar vontade

Eu tenho alguns planos. Eles se intitulam Plano A, Plano B, Plano C, Plano D. Variando de viabilidade (de A a D) e diversão (de D a A).
O Plano D consiste em: um dia, conhecer uma banda muito, muito boa, pela qual eu derretidamente me apaixonarei. nesta banda haverá um carinha muito boa gente e muito bonitinho, tudo que eu sempre sonhei, pelo qual, obviamente, também derretidamente me apaixonarei. eu, o carinha e sua banda viajaremos pelo brasil e pelo mundo conquistando seguidores para o maravilhoso som que eles fazem. no plano também estão inclusos viagens num onibus mal-cheiroso, noitadas de loucura, hoteis mulambentos, todos cantando tiny dancer do elton john, igual em quase fomosos e tudo mais.
O Plano A é, o bom e velho, acabar a faculdade com honras ao mérito, mudar pra brasília e conseguir um emprego num ministério, preferencialmente da cultura, onde poderei fazer projetos q ajudem bandas como a daquele carinha.
Obrigatoriamente, em qualquer dos planos será realizada a lista de coisas que não posso fazer deixar de fazer nessa vida, como subir a torre eiffel, dar um mosh, terminar de ler a biografia do che guevara e relar numa pessoa morta.

E hoje, nem eu tive coragem de subir na mesinha que colocaram ao lado do palco e pular, nem o carinha olhou pra mim. E eu, mais uma vez, acabei a noite fritando batatas.

www.myspace.com/thesaladmaker
o melhor show do ano, melhor inclusive que o dificilimo e trabalhoso show do cidadão instigado.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Filho da puta

Eu canso de dizer e ninguém segue o conselho: Quando for quebrar meu coração é melhor que seja sincero.
Mesmo que a verdade não seja contada, eu vou sofrer.
E quando suspeitar da verdade, vou sofrer de novo.
E quando alguém me contar que é verdade, vou sofrer de novo.
E quando, você, filho da puta,
vier me contar a verdade, mesmo que seja cinco anos depois, vou sofrer de novo.
Filho da puta.
E o pior é que nessa situação, quando vier, finalmente, me contar a verdade, eu ainda vou ter que cuidar de você, bêbado, coisa que eu não faço por qualquer um.
Filho da puta.
Quando eu digo que verdade poupa sofrimento, acreditem, por favor.

"Não adianta chorar...
Você já fui tudo que eu quis. Eu ao seu lado já fui feliz.
Aqui se paga o que aqui se fez. Como um salário no fim do mês."
Ana Cañas

obs: a combinação de três pratos de nhoque com uma garrafa de conhaque, não funciona.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Gregório

Daí o Gregório estava sentado do meu lado na cama, estavamos brincando de colheita feliz, aparentemente, a atividade favorita dele.
Então ele disse 'Iris, nós vamos [sim, ele conjuga corretamente os verbos na primeira pessoa do plural] passar o dia inteiro juntinhos, sem fazer nada, só vamos parar pra ir pra praia, né?'
Eu, que estava roubando beringelas da colheita de alguém parei pra dizer, 'Ah, Gregorinho, não vai dar, eu ainda tenho trabalhos pra entregar'. E ele retrucou, 'Mas é férias!', mostrando as palmas das mãos, levantando a sombrancelha e com aquela voz de quem está dizendo uma coisa muito óbvia.
Eu dei um abraço nele e falei, 'Brinca mais um pouquinho, mas daqui a pouco eu vou estudar e você vai lá pra sala'.
Ele, que realmente acha que pode [e pode] convencer qualquer um de qualquer coisa, alegou que me ajudaria a estudar. Eu falei que precisava me concentrar pra escrever e com ele aqui só ficaria concentrada nele.
Foi quando ele teve um pitizinho, frequente em crianças de 3 anos que embirram, chamam os adultos de chatos e saem batendo o pé. Mas ele não.
Ele levantou, colocou a mão na cintura e disse. 'você acha que me engana? eu vou pra sair daqui e só volto quando você arrumar toda essa bagunça.' Apontou o dedo na minha cara, como se fosse minha mãe! Bateu a porta quando saiu.

Eu achei super engraçado. Mas não tem a menor graça.

Depois de um tempo ele voltou abriu a porta devagarzinho e perguntou 'você já arrumou tudo? a gente já pode brincar?'


Sabe, ele é fascinante. Eu podia passar dias só ouvindo ele contar historinha, cantar as musicas que ele inventa, pedir as comidas que ele descreve insanamente, vendo ele dançar no meu quarto com as músicas que eu ponho e ele diz que gosta. Depois ele sai cantando pela casa. Ontem estava jantando e cantou 'vai ter muito sucrilhos com champanhe e a gente vai se divertir pra caramba!'
Ai ai. Sou apaixonada por ele como ele é apaixonado por papai noel.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Sono e A Insônia

Os dois estão me levando a loucura.
Um me puxa de um lado, a outra me puxa do outro.
E eles se confundem numa mistura alucinante que me faz dormir 22h num dia e 6h numa semana.
Me declaro absolutamente incapaz de dormir oito horas por dia, muito menos durante a noite.
AAAAhhhhh

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Uma pá de gente

Amanda e Artur

Amanda e Artur foram passear, viver como nos bons tempos. Entupidos de vódega e refri, dançavam insanamente ao som de Bow Wow Wow. Num momento se afastaram do grupo e deitaram no chão malcheiroso (testemunha de um assassinato, provavelmente). A música continuava tocando, as estrelas brilhando e tudo girando.
Um estranho que diz ter o nome impronunciável os aborda dizendo coisas que acredita serem de profunda sabedoria. Depois de um tempo ouvindo baboseira, quando seus cotovelos já estavam doendo de ficarem apoiados no chão pedregulhoso, Amanda diz: 'eu não acredito em nada que diz, e mesmo se acreditasse, amanhã não vou lembrar'.
Conversa fiada, faca afiada, fuga desenfreada.
Amanda distraiu o louco, Otávio escondeu a faca do louco, Sofia se assustou com o louco e Artur nem percebeu nada, estava bebado demais.

Amanda

Era tarde, bem tarde da noite quando Amanda voltava pra casa ouvindo Björk. Ela não estava sozinha, mas agia como se estivesse. Amanda estava meio perturbada, não pela bebida, nem pela música, nem pela companhia. Mas estava perturbada, como se precisasse muito fazer alguma coisa e não soubesse o que fazer.
Amanda tirou o sapato de tecido rasgado do lado e começou a correr. Corria não pra fugir do passado, mas pra chegar logo no futuro. Cansada do presente, ela corria, e não parou de correr até encontrar um novo amigo.

Otávio

Enquanto Amanda ia por um caminho, Otávio ia pelo outro. Otávio também buscava o futuro, mas tinha um enorme rotivailer em seu encalço. Não poderia correr nem se quisesse. E ele queria. Forçado a continuar andando calmamente, como se não se sentisse incomodado ou amedrontado com o animal que o perseguia, Otávio foi seguindo seu caminho, até encontrar o seu destino e fechar a porta na cara do que o perseguia.

Artur e Sofia

Artur seguia Amanda, ao lado de Sofia. Enquanto Amanda girava perturbada olhando o céu e apertando o passo, Artur e Sofia conversavam animadamente, como se tivessem a vida inteira pela frente e todo o tempo que quisessem até chegar a qualquer lugar, não importando qual fosse desde que tivessem comida e onde encostar a cabeça.

Lázaro

Enquanto todos caminhavam, tentando chegar a algum lugar ou fugir de algum lugar, Lázaro serenamente aproveitava a madrugada para fazer desenhos com canetinha colorida em seu caderno de anotações sombrias. O telefone tocou. Lázaro atendeu 'alô'. Respiração ofegante do outro lado. 'Alô', ele repetiu. Entre a respiração sofrida Amanda respondeu 'Sou eu'. 'Que foi?' ele perguntou preocupado. 'Eu não sei o que fazer, preciso da sua ajuda, vem me encontar?' 'Onde você tá?' 'Tô na frente da sua casa.'

Amanda e Lázaro