Eu cresci num bairro afastado, com a casa afastada do muro.
Acostumei-me a ouvir apenas os gritos de um cômodo para o outro que tanto irritavam meu pai. Mas convenhamos que não faz sentido andar de quarto em quarto avisando 'O almoço está na mesa', sendo bem mais prático bradar 'Tá pronto!!!'
Quando me mudei das casas dos meus pais caí num sobradinho geminado muito simpático. Já havia sido uma revolução mental ouvir as músicas que os vizinhos decidiam ouvir, ouvir eles brincando com o cachorro (eles compunham músicas pro cachorro, por isso o fato chama tanta atenção), por vezes ouvir os vizinhos discutindo, e ainda algumas outras os vizinhos arrastando móveis suspeitamente durante a madrugada.
Há pouco mais de um mês eu me mudei para um apartamento, numa área horrível da cidade, onde transitando pelas ruas você pode encontrar os piores seres humanos existentes: unimarianos (sem a pretensão de generalizá-los, afinal conheço dois ou três que podem até se salvar).
Foi só quando me mudei para um prédio cercado por vários prédios que fui entender como a vida alheia é um porre. Eu não quero ouvir as músicas que a menina do bloco ao lado ouve, mesmo por que me irrita ouvir músicas da mesma banda, mas de albúns diferentes misturadas (sim, eu sei que é frescura minha), eu não quero mais perceber quando qualquer um do meu lado do prédio da descarga, eu não quero mais conseguir notar que horas o menino da frente chega em casa. E eu, especialmente, não aguento mais os meninos do prédio ao lado que tem um megafone e fazem questão de informar a todos transeuntes e moradores num raio de 4 quarteirões o que se passa na vida deles. (Ontem eles anunciaram quando um deles vomitou, e o aspecto do vômito).
Não suporto mais a vida alheia e peço que ela se retire da minha vida.
que tristeza
Há 5 anos