A campainha tocou.
Já eram duas da tarde de sábado, embora Teresa não soubesse disso. Enquanto tateava o chão procurando as roupas que usava na noite anterior, ou em qualquer um dos dias anteriores, Teresa imaginava quem poderia estar esperando na frente do portão.
Achou uma camiseta no meio do monte de roupas sujas e uma bermuda jogada por cima dos sapatos. Abriu a porta enquanto tentava se lembrar se havia lavado o rosto na noite anterior ou se estaria com o rosto borrado.
_Moça, quer salgado?
_Não, moço, hoje não.
Fechou a porta arrependida por tê-la aberto.
Foi lavar o rosto e notou que as roupas que procurava pelo chão estavam penduradas no cabide do banheiro, e que não, ela não havia lavado o rosto antes de se deitar. Observando o risco de rímel escorrido pela bochecha, botou uma música pra tocar. Talvez ela aliviasse a eterna desventura de viver a espera de viver.
Enquanto ouvia Cássia Eller gritar “Eu não vou obedecer, não, não. Eu não sou escoteiro.”, Teresa fez um café. Talvez ele aliviasse a ressaca. Teresa encontrou uns papéis rabiscados no chão. Encontrou copos sujos e garrafas vazias. Encontrou alguma coisa pra comer. Encontrou uma faca suja de sangue. Encontrou o cinzeiro cheio e o pacote de cigarros vazio. Encontrou o registro de ligações feitas para alguém que não atendeu, nem poderia. Encontrou manchas de vinho nas almofadas. Encontrou a cartela de calmantes também vazia. Encontrou roxos nos joelhos e marcas de mordidas nos braços. Só não encontrou alívio em lugar nenhum.
que tristeza
Há 5 anos