sábado, 28 de novembro de 2009

Teresa

A campainha tocou.
Já eram duas da tarde de sábado, embora Teresa não soubesse disso. Enquanto tateava o chão procurando as roupas que usava na noite anterior, ou em qualquer um dos dias anteriores, Teresa imaginava quem poderia estar esperando na frente do portão.
Achou uma camiseta no meio do monte de roupas sujas e uma bermuda jogada por cima dos sapatos. Abriu a porta enquanto tentava se lembrar se havia lavado o rosto na noite anterior ou se estaria com o rosto borrado.
_Moça, quer salgado?
_Não, moço, hoje não.
Fechou a porta arrependida por tê-la aberto.
Foi lavar o rosto e notou que as roupas que procurava pelo chão estavam penduradas no cabide do banheiro, e que não, ela não havia lavado o rosto antes de se deitar. Observando o risco de rímel escorrido pela bochecha, botou uma música pra tocar. Talvez ela aliviasse a eterna desventura de viver a espera de viver.
Enquanto ouvia Cássia Eller gritar “Eu não vou obedecer, não, não. Eu não sou escoteiro.”, Teresa fez um café. Talvez ele aliviasse a ressaca. Teresa encontrou uns papéis rabiscados no chão. Encontrou copos sujos e garrafas vazias. Encontrou alguma coisa pra comer. Encontrou uma faca suja de sangue. Encontrou o cinzeiro cheio e o pacote de cigarros vazio. Encontrou o registro de ligações feitas para alguém que não atendeu, nem poderia. Encontrou manchas de vinho nas almofadas. Encontrou a cartela de calmantes também vazia. Encontrou roxos nos joelhos e marcas de mordidas nos braços. Só não encontrou alívio em lugar nenhum.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Família

Tinha uma família no ônibus
O ônibus parou na garagem
O pai de família desceu do ônibus e acendeu um cigarro
A filha começou a chorar achando que o pai não voltaria
A mãe começou a gritar com o pai
Pedia pra ele voltar
Ele ria e dizia: só um cigarro
A menina continuava a chorar
A mãe continuava a gritar
O pai continuava a fumar

Ninguém se dignou a olhar nos olhos da criança e falar: papai já volta, o ônibus não vai embora sem ele.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Cats and Dogs

Os últimos dias passei com o Romeu, gato de uma das meninas do grupo da minha MD. Romeu é louquíssimo, as vezes sai correndo pra alcançar a janela ou pra revolver a cama, e as vezes passa horas deitado na mesa. Já notaram que quando se está fazendo carinho num cachorro adormecido e pára, ele levanta a cabeça e se mexe até se encaixar de novo embaixo da mão? Gatos não. Gatos sempre deixam claro que não precisam de você, e não precisam mesmo. Mesmo assim, se você oferece um prato cheio de carne, eles comem.

Hoje eu acordei tão feliz. Como se o mundo que estava em meus ombros tivesse se tornado um globo de plástico cheio de ar. Acordei as 7, apaguei as velas que restaram acessas e voltei pra cama. Não consegui dormir mais. Acho que desacostumei a dormir mais que 2 horas. O dia, cheio de notícias agradáveis, estava cor de laranja pôr-do-sol.

Mas todo pôr-do-sol pra ficar bonito, bonito mesmo, tem que ter aquelas nunvens cinza-escuro que te lembram que toda beleza tem um reverso. O meu reverso é, e sempre foi, a insônia. Essa vaca. A insônia não me deixa dormir, a falta de dormir me deixa, sei lá, me deixa assim. Assim mal-humorada, assistindo Los Hermanos na Fundição Progresso pela milésima vez, escrevendo, abrindo todas portas de armário, a geladeira, o armarinho de banheiro, os livros, os cadernos e as gavetas pra ver se encontro alguma coisa que me satisfaça, sabendo que não vou encontrar.

Pra fazer companhia pra insônia peguei o cartão de memória do meu celular antigo, que não chegou a ficar antigo e coloquei no meu celular novo. E obviamente (ou não) cartão de memória carrega uma pancada de memórias, mais especificamente aquela das férias suínas. Les Jours des Vacances que o Pedro tanto cita. A maioria das músicas eu não ouvia há tempos. Inclusive a célebre, Pro dia Nascer Feliz, cujo trecho dá título a esse blog. Acho que nunca esclareci por que ela tem toda essa importância. Nem vou esclarecer agora. Mas ela tem.

A última que tocou antes que eu desligasse o celular, notando que ouvir estas músicas não me fazia bem foi Cats and Dogs, da Camille. (Vejo o Pedro abrindo o sorriso dele).

"Cats and Dogs are not our friends, they just pretend."
Inclusive o Romeu, as nuvens cinzentas e o laranja.
As coisas só são verdadeiras na minha verdade. E minha verdade está ausente.


"Verdes campo, flores amarelas, furta-cor [são]
todas as verdades e olhares que podia"

Quarta-feira 11/11 19h

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Ditadura Militar - A reação popular

Esses tempos, a gente tava assistindo em aula um filme sobre a ditadura na argentina.
Quando o filme acabou a professora pediu algum comentário.
Um dos meninos disse "Horrível, como os militares conseguiam torturar as pessoas, isso nem parece humano...[acrescente mais exclamações indignadas, minha memória não é boa o suficiente pra lembrar tudo que ele falou, nem eu estou com criatividade para inventar alguma coisa pra substituir imaginariamente]"

PAUSA - GEEENTE, JÁ PASSOU O VESTIBULAR, AS CADEIRAS ESTÃO COM GRUDINHO DE ETIQUETA! O ANO VAI ACABAR!
me recompondo...


Me estranhou bastante o comentário dele. Lembro muito bem de quando enfurnados num onibus assistimos Tropa de Elite e a reação à tortura, não só dele, como de toda a sala foi muito diferente.

Por que, quando é o Wagner Moura que tortura, todo mundo imita, passa a semana gritando 'vc é muleke, muleke!' e quando é um qualquer com fantasia de militar ditador todo mundo fica chocado?

obs: o título do post é também o título da minha parte da Missão Diplomática. O trabalho mais importante depois do TCC. E razão da minha falta de vida, de sono e de ... tudo. Preciso respirar...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Por que você me pede respostas?
Eu não tenho nenhuma.

Por que você acha que eu tenho respostas?
Eu não tenho nenhuma.

Por que a gente não pode procurar junto?
Eu não tenho nenhuma.

-Eu não quero fazer as perguntas