domingo, 27 de dezembro de 2009

Letícia

Ela estava sentada no bar, conversando com Felipe, o garçom.
Enquanto dava o último gole em sua taça de vinho, Felipe alertou-a, 'Lê, sem querer te alarmar mas, o André está aí, e vindo na sua direção'.
'Sério?', ela perguntou com os olhos arregalados.
'É. Você vai ficar bem?', ele perguntou enquanto olhava de esguelha para um rapaz que o chamava de uma mesa.
'Claro que eu vou', ela respondeu enquanto ajeitava o cabelo recém cortado e preparava um sorriso verdadeiramente falso.

'Hey, Girl'. André disse com aquele sotaque Jonnhy Cash que sabia muito bem o quanto ela adorava.
'Oi', ela disse secamente com o sorriso irônico, a versão fracassada do sorriso verdadeiramente falso.
'Posso te pagar uma bebida?', perguntou apontando a taça vazia.
'Não, obrigada, não bebo mais porções absurdas de alcóol' disse enquanto cruzava os braços.
'Desde quando?' Ele ergueu a sombrancelha enquanto perguntava
'Desde hoje.' Ela teria erguido a sombrancelha se soubesse como fazê-lo.
'Ufa, já ia perguntar quem era aquela louca que me ligou do seu telefone ontem a noite'. É, ele sabia brincar de ironia também.
'Exatamente. Me desculpe. Não vai mais acontecer.', ela disse numa tentativa de encerrar a conversa.
'Então, podemos tomar um café amanhã?'
'Não, André, não podemos tomar um café.'
'Uma torta de chocolate naquela padaria que você gosta?'
Ela só balançou a cabeça.
'Assistir um filme, talvez?'
Ela balançou a cabeça mais uma vez.
'Comprar sapatos? Sapatos te deixam alegre, não deixam?'
Ela balançou mais uma vez a cabeça. Empurrando com a mão trêmula a camisa mal passada que o vestia, disse, 'Chega André, me deixa em paz'
'Você nunca mais vai falar comigo, Lê?'
'Não, vai me embora, sua Girl está te esperando em casa.'
Felipe voltava ao bar ao mesmo tempo que as lágrimas começavam a marejar os olhos azuis da menina.
'André, vai embora, você não tem mais nada pra conversar aqui.' o garçom implorou ao rapaz.
'Cara, eu só queria que ela me perdoasse'
'Aqui não tem perdão. Você não podia ter sacaneado ela.'

André foi embora carregando seu copinho plástico cheio de vodka com suco de laranja.

3 comentários:

Pedro Paiva. disse...

nesse texto você só praticou, quase não reconheci a iris nele....mas ainda assim gostei muito, e só consegui iumaginar a andréa beltrão no papel da menina...........gostei sim.

pedro meinberg disse...

e acho que você está se arriscando com sucessos nesses contos.

Gabriel Coiso disse...

é, belo texto.
mas ainda estou para conhecer um bar que sirva vinho em taças.