quinta-feira, 27 de outubro de 2011

sossega, coração

já disse que na minha época de escola eu não era a pessoa mais popular do mundo, né. que eu tinha várias cricas com várias pessoas, queria me matar de desgosto pelas coisas que ouvia pelos corredores e nas salas de aula. detestava com afinco quase todo mundo que me cercava.

eu chorava, esperneava, dizia pra minha mãe que não queria ir pra escola.

não que eu fosse a rebecca black e não aguentasse quando as meninas diziam "sabe que dia é hoje, rebecca?".

não, nada disso. eu só não tinha assunto com as pessoas, achava idiota tudo que diziam, não me sentia confortável com o tipo de humor que eles usavam.

daí minha mãe dizia 'calma, minha filha, eu sei que eles não são seu tipo de gente, que eles não tem nada a ver com você. mas fica tranquila, porque quando você for pra faculdade vai ser bem mais legal. vão ter pessoas com os mesmos interesses que você, afinal, escolheram o mesmo curso. sossega, coração"

claro que ela não dizia assim, porque minha mãe não é personagem de filme brasileiro dos anos 60 pra falar "sossega, coração".

mas era essa a linha de raciocínio. então, mãe, só que não é assim que funcionou.

eu tenho várias cricas com várias pessoas, quero me matar de desgosto pelas coisas que ouço pelos corredores e nas salas de aula. detesto com afinco quase todo mundo que me cerca.

você entende, mãe, que não posso forçar as pessoas a pensarem do meu jeito, e muito menos pensar do mesmo jeito que eles? que isso não muda com a idade, que isso não muda com o lugar, que isso não muda com o clima. sempre vai ter a sociedade e sempre vai ter eu na margem.

entende, mãe, que se teve alguma coisa que mudou foi que só agora eu percebi que a margem também tá cheia. tem um monte de gente comigo.

e que se eu falo que vou casar com duas meninas, que meu fornecedor de drogas foi preso e por isso não vou conseguir terminar a faculdade, que meus roxos são do bate cabeça, que almocei ervilhas com magic toast, que escorreguei na grama cortada e todas essas coisas; não é que eu seja lésbica-polígama-drogada-burra-punk-pobre-anoréxica-desajeitada; é que eu não ligo. e eu queria tanto que você não ligasse também.

só que você é você, você não é minha mãe, entende?

Um comentário:

O dono do açucareiro disse...

posso me juntar à margem com vc? brigado