domingo, 18 de dezembro de 2011

embora não se saiba


as coisas foram embora. fiquei sozinha, sendo levada embora. indo embora embora não se saiba pra onde. esperando nesse lugar vazio e esvaziando esse lugar de mim. andando pelos cômodos vendo as nesgas minhas que foram ficando. o macarrão que ficou embaixo do fogão que foi embora. o cabelo que fica no ralo que vai ficar.os escritos nas paredes que vou ter de apagar.

e tudo que eu deixo, e tudo que eu levo. não perco. não perco e não perderei. os papéis que acumulei e jogo fora. o cabelo que cresceu e corto. o furo que martelei na parede e cubro. estão todos em mim, presos na memória inacessível. não me esvazio de nada. todos pedaços de mim foi esse tempo que fez essa gente que fez esse lugar que fez. torno-as tão minhas porque os carrego nelas. e nelas escrevo minha história.

já está escrito.



tudo que duramente passa
tudo que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura,
de ver que viver não tem cura
- leminski


a escrivaninha era do meu tio que foi embora nessa quarta feira. e também carrego comigo. 

2 comentários:

pedro meinberg disse...

bela reverência às coisas boas que viveu.

Gabriel Coiso disse...

mudança é foda.